Há novas tendências a perfilarem-se no horizonte do imobiliário – que resultam da forma como as pessoas estão a ajustar-se a esta nova estranha forma de vida –, algumas das quais são apontadas num dos mais recentes estudos da consultora Knight Frank, o Prime Global Forecast 2021. Uma das mais consolidadas, até porque assenta num movimento pré-pandemia, é o crescimento exponencial da comunidade de nómadas digitais: pessoas que circulam pelo mundo e que mantêm a ligação permanente com a empresa através de plataformas digitais.

O estudo dá o exemplo de locais como Dubai, Barbados ou Baamas que já criaram “short-term visas” (vistos temporários), para atrair estes profissionais de startups, um esforço para injetar algum dinamismo nas respetivas economias marcadas pela crise pandémica.

“Portugal tem todas as condições para atrair este tipo de pessoas também. Hoje em dia, trabalha-se de uma forma completamente diferente, sem necessidade de se estar na mesma zona geográfica da empresa. Podemos trabalhar em Hong Kong, nas Maldivas ou em Portugal. E, no pós-pandemia, podemos tirar partido do lifestyle português que tanta fama conquistou”, defende Francisco Quintela, sócio da Quintela e Penalva, consultora que, este mês, formalizou a parceria com a britânica Knight Frank, passando a chamar-se Quintela + Penalva/Knight Frank, acedendo, a partir deste acordo com o gigante inglês, a um vasto mercado que vai muito além do Reino Unido (a Knight Frank tem uma rede de 488 escritórios em 58 países).

Outra tendência referida no estudo – que resultou de uma análise dos vários mercados onde a multinacional está presente – é o crescimento da importância dada aos investimentos imobiliários que respeitam questões éticas e ambientais, “temas colocados na agenda global pelo efeito da pandemia e da já presidência de Joe Biden”.

O teletrabalho imposto pela pandemia, e que terá efeitos duradouros mesmo quando esta estiver controlada, dará impulso a dois outros movimentos, preconiza a Knight Frank: as periferias vão ser reforçadas com mais comércio e outros equipamentos e muitos tenderão a procurar segundas habitações próximas do local de trabalho e, por conseguinte, da primeira residência, uma opção que se molda a eventuais restrições de circulação em caso de confinamento.

Remetendo para o mercado nacional, Francisco Quintela dá como exemplos zonas como a Comporta e Melides, que estão a valorizar-se muito graças às mais-valias paisagísticas, a uma curta distância da capital. “O luxo já não é ter torneiras de ouro como as do Ceausescu. É o luxo de andar de chinelo na praia, a seguir ir ao mercado local e desfrutar de um determinado tipo de vida que não se consegue ter em muitos outros lugares. É um luxo completamente diferente”, sublinhou o responsável, acrescentando que este fluxo, que já existia no pré-pandemia e que deverá acentuar-se no pós, levou a “que os preços da zona da Comporta, por exemplo, tenham disparado 300% a 400% nos últimos 15 anos, com valores por metro quadrado que hoje são próximos dos praticados em Lisboa ou Cascais”.

Oportunidades de nicho
Também em alta, devido à pandemia, vão estar os resorts que, nos últimos anos, viram “os seus preços ofuscados pela escalada de valores praticados nos centros das cidades desde a anterior crise financeira”. Diz o estudo que “os resorts, sejam estes de neve ou de praia, de Aspen a Cannes, têm assistido a um aumento da procura durante a pandemia”.

O turismo de saúde, as residências seniores ou o imobiliário de rendimento (o chamado Private Rented Sector, edifícios para o mercado de arrendamento de longa duração, geridos por entidades institucionais) estão na mira dos investidores imobiliários que já estão ativamente a procurar oportunidades.

O estudo termina deixando no ar não tanto uma tendência já em formação mas antes uma interrogação que é partilhada por países à escala global, Portugal incluído: “Irão os governantes aumentar os impostos sobre a propriedade num cenário pós-pandemia, de forma a repor a receita perdida durante estes dois anos em que a doença congelou o mundo, ou os impostos e as proibições definidos para os compradores estrangeiros serão eliminados para ajudar a atrair mais investimento estrangeiro? Os próximos meses vão definir a rota que os governos irão seguir.”

Fonte: Visao.Sapo.PT